
A origem da ayahuasca remonta a Pré-história, porém não se sabe, precisamente, quando a prática da bebida teve inicio. Segundo dados de estudiosos há evidências arqueológicas através de potes e desenhos que levam a crer que o uso de plantas de poder e contato com o mundo divino tenham ocorrido desde 2.000 a.C.
Embora na América do Sul haja o consumo da ayahuasca por parte de diversas tribos indígenas, foi somente no Brasil, em especial no Estado do Acre, que se desenvolveu o uso religioso por comunidades não indígenas, e a partir destas religiões, o uso ritualístico da bebida vem entrando em contato com diversas culturas e expandindo-se no Brasil e no mundo. No Brasil a ayahuasca ficou denominada religiosamente como Santo Daime ou Vegetal, dando origem a três vertentes de segmentos espirituais conhecidas como: O Império Juramidam, a Barquinha e a União Do Vegetal - UDV.

Segundo depoimentos históricos, a iniciação de Irineu nos mistérios da ayahuasca deu-se sob orientação da Nossa Senhora da Conceição, agraciando-o com os fundamentos da doutrina, entregando-lhe o ritual dos trabalhos espirituais do Santo Daime e os hinos, que em seu conjunto formaram o hinário do Cruzeiro, concedendo-lhe assim o título de Chefe-Império Juramidam. Esse período de desenvolvimento de Irineu durou de 1935 a 1940. Simbolicamente Juramidam significa Jura é o Pai, Midam é o Filho, nome que as entidades divinas deram ao iniciador da doutrina. O Povo de Juramidam é a irmandade daimista renovada na mensagem do Cristo para os tempos atuais. Mestre Irineu faleceu em 06 de julho de 1971.


Outros segmentos da ayahuasca surgiram por meio da vertente do Santo Daime, a exemplo do Centro Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra – CEFLURIS, fundado em 1974 por Sebastião Mota de Melo, amazonense da cidade de Eurinepé, localizada as margens do rio Juruá. Padrinho Sebastião, como ficou conhecido, encontrou-se com o Daime por meio do Mestre Irineu, em 1965; através da bebida recebeu a cura de uma doença que o assolava, desde então, passou a seguir os passos do Mestre.

AYAHUASCA NÃO É DROGA!

O parecer da pesquisa foi submetido à plenária, em 31 de janeiro de 1986, aprovado por unanimidade a autorização para o uso da ayahuasca em contexto religioso, resultando na Resolução número 06 de 04 de fevereiro de 1986. Portanto, novos problemas surgiram, através de denuncias anônimas que afirmavam o mau uso do chá por parte de alguns segmentos.
A União do Vegetal sugere a Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados à instalação de um novo grupo de estudo que foi formado por representante do governo, Departamento Médico e Cientifico da UDV – DEMEC entre outras Instituições. O resultado desse estudo aponta inofensivo o uso da ayahuasca em contexto religioso; em 02 de junho de 1992, o CONFEN decidiu deliberar definitivamente o uso do chá para fins religiosos.
Apesar dos resultados das pesquisas serem favoráveis, pessoas mal esclarecidas e desinformadas acreditam de maneira errônea que a ayahuasca é droga. Ao contrário, o chá tem o poder de curar diversas enfermidades, inclusive à cura no vício de drogas pesadas. Pesquisadores afirmam que um dos componentes da ayahuasca é o Dimetiltriptamina ou simplesmente DMT. Uma substância que contenha o DMT, para ser enquadrada como droga, dentro das leis científicas atuais, precisa conter ao menos 2 % de DMT. No caso da ayahuasca este percentual é 0,02 %, ou seja, 100 vezes menor que a taxa mínima necessária para que uma substância seja taxada como droga.
FONTE DE PESQUISA: LIMA, Emmanuel Gomes Correia. O Uso Ritual da Ayahuasca: da Floresta Amazônica aos Centros Urbanos. 2004. Monografia (Conclusão do curso de graduação em Geografia) Universidade de Brasília.
CÂMARAS TEMÁTICAS DAS CULTURAS AYAHUASQUEIRAS

Antonio Alves, jornalista e membro do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal – CICLU, presidido por Peregrina Serra, esposa do Mestre, é também conselheiro da Câmara Temática de Culturas Ayuasqueiras, destaca que este momento para o Santo Daime é positivo; já que, houve um momento de exposição negativa estimulado pela mídia, por não compreender o que realmente é o Santo Daime e pelo mal uso de alguns segmentos.
O jornalista tem acompanhado todo o processo de estudo da ayahuasca e esclarece que desde 1996 diferentes comunidades começaram ter contatos mais freqüentes, o que possibilitou alguns diálogos em relação à cultura da ayahuasca como patrimônio cultural imaterial, daí surgiu à proposta de transferir os estudos realizados pelo Ministério da Justiça para o Ministério da Cultura; dessa forma, as entidades representativas vêem fazendo contato para tornar legitimo a ayahuasca como cultura e já está em tramite no Governo Federal, através do IPHAN a proposta de registro da ayahuasca como patrimônio cultural imaterial.
Em relação às câmaras temáticas ele ressalta: “é um reconhecimento por parte do poder publico municipal e ao mesmo tempo uma compreensão de que não é somente uma expressão cultural, mas faz parte de um patrimônio histórico e cultural. A participação das comunidades é imprescindível, pois é uma forma de dialogar com o poder, não só para reivindicar, mas para oferecer idéias. É importante esta participação de maneira efetiva na formação do Plano Municipal de Cultura, buscando registrar as atividades das comunidades, para que fiquem gravados na historia do município, possibilitando também combater o preconceito que ainda é existente da parte daqueles que não conhecem. Então, O Santo Daime está saindo de um noticiário desfavorável e entrando em um dialogo cultural”.
João Guedes, membro do Centro Espírita e Obras de Caridade Príncipe Espadarte, uma das vertentes da Barquinha que é presidido por Francisca Campos do Nascimento, também é conselheiro da Câmara Temática de Culturas Ayahuasqueiras. Para ele as reuniões das câmaras temáticas representam a democratização e o acesso aos bens culturais jamais visto no Estado do Acre.


Revista Cultural "Outros Mozaicos da Cidade Nascente", publicada pela Fundação Municipal de Cultura Garibaldi Brasil - FGB, em 28 de dezembro de 2008. Rio Branco - Acre.